sábado, 12 de novembro de 2011

A hecatombe do pseudo-amor entre os homens...


O menino tinha tomado a frente da menina por uns instantes enquanto copiava a lição no quadro. Quando me virei, dei de cara com a mesma menina que esbofeteara o menino, agora agarrando-o pelo pescoço com a sagacidade de uma tigresa de unhas negras; o menino com meio palmo de língua de fora quase nada conseguiu dizer antes de ser socorrido e prontamente justificado.

Ao questionar a menina, da pergunta ao ato circunstancial por então presenciado, obtive em som maior a seca resposta “porque eu quero, eu sou assim mesmo.” Lembrei-me então, da lenda do escorpião que ferrou o sapo por excesso de psicopatia e esbocei sobre esta um olhar desafiador de ordem no singular. E os panos se fecharam no fim do ato.

Todos os dias testemunhamos cenas de violência em pequena, média e grande escala, sejam a olho nu ou pelos esquadros das telas de comunicação. O fato, é que nem mesmo nossos olhos, nem tampouco nenhum dos nossos sentidos se acostumaram a ver com resignação o que por vezes desafia até a natureza televisiva de um autor de novelas ou simplesmente de textos mequetrefes como este. 

O que será que gera tanta violência diante de nossos olhos? Que força estranha é esta que dá poder aos vassalos e suseranos em ordem de batalha? Ao final da fábula do escorpião, por aqui lembrar, ele dizia fazer parte de sua natureza ser mal. Será que as pessoas tornaram-se más por natureza e nós continuamos resistindo nisso crer? Não sei bem onde, nem quando ou porque, só sei que a ordem foi reversa e os tiros foram disparados quando jamais imaginamos portarem as armas. 

As maldades que permeiam o nosso dia a dia emoldurando as personalidades que nos rodeiam são as mais fortes e visíveis a olho nu. Certa vez Goethe disse que mal entendidos e negligências causam mais mal ao mundo que a maldade humana. Não sei se ele desacreditava no mal que existe nas pessoas ou se poeticamente chamava o mal de “mal entendido” e “negligência”, que por uma questão de ordem semântica para mim dá no mesmo. Mas o fato, é que ele sabia a quem atribuir à normativa responsabilidade social das mazelas existentes. E o mal, sendo compreendido em todos os casos, como um escape à inferioridade e à infelicidade dos incapazes de amar (nem que seja no instante de sua prática) finaliza as ortodoxas conclusões há que chegaram nossos ancestrais que mais felizes que nós, acreditaram haver um demônio poderoso que comandava o mal e uma legião de demoniozinhos responsáveis por sacipererizarem (com licença, criei a palavra) o nosso dia a dia. 

Ninguém está imune ao mal, nem mesmo esse projeto de escritor, mas a consciência de sua prática domestica os instintos selvagens que vez por outra afloram em nossa personalidade. Seria então mais cômico e menos trágico, ouvir no balanço de uma rede os Demônios da Garoa cantando o Trem das 11, enquanto os sacis azedavam o leite ou tentavam enforcar alguém nas nossas costas, combatendo-os a exemplo de Brecht que um dia escreveu “Escapei dos tigres, alimentei os percevejos.” Mostrando para nós mesmos a vulnerabilidade da falsa socialização que tramita nas valências da antropologia pós moderna.

Que esta, hoje, sirva somente para alertarem os homens de bem, que escapam dos ataques terroristas, das bombas nucleares, dos genocídios e cataclismas físicos e morais a não se ludibriarem com essa maldade mixuruca e capenga que nos entorpece e devora vagarosamente como um lento veneno que faz o sujeito desacreditar em si mesmo ao ler Lindolf Bell conjurar “Eu manterei meu ódio à hecatombe do pseudo-amor entre os homens e manterei meu ódio aos fabricantes de neuroses da paz, mas eu farei exceções a todos aqueles que souberem amar.”

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