domingo, 29 de junho de 2014

Os Ratos: onde estarão nesse momento?


Até 1943 quando surge Clarice Lispector no cenário das produções literárias brasileiras, pouco se produziam obras numa temática introspectiva, voltada para o interior, para a ação existencialista do ser. Lendo Os Ratos, de Dyonelio Machado (1935) percebemos a angustia do personagem Naziazeno como um escape a ação capitalista do mundo moderno. 

Imaginem o drama de um proletariado em dívida com o leiteiro, tendo que pagar sua dívida em apenas 24 horas. São, pois, nessas 24 horas que o personagem desdobra-se em meio a uma série de possibilidades para conseguir o dinheiro e tem sua narrativa condensada de dentro para fora. 

Esse padrão estético rompe com a estrutura tradicional e é completamente inovador para sua época. Torna-se difícil compreender, em alguns aspectos, e exige do leitor uma atenção mais exata. Há momentos em que as ações "perdem-se" no tempo e no espaço da narrativa para somente assim conseguir acompanhar o pensamento transcrito. Lembremos, pois, que nesse estilo romanesco estamos prezando o que se efetua de dentro para fora. E não se pode ler um texto dessa natureza da mesma maneira como se lê, por exemplo, Luzia Homem - Domingos Olímpio.

Fica aqui a minha dica de leitura para esta semana: Os Ratos. Para quem deseja exercitar sua inteligência de forma desesperadora e angustiante na incansável busca de identificação com o mundo moderno. Depois vocês me contam o que onde estão os ratos e o que conseguiram roer. (risos)

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Encerrando a polêmica


Uma das fases mais difíceis quando se está esperando uma criança, é a escolha do nome. Imaginamos mil e uma possibilidades, pesquisamos, pedimos sugestões (a algumas pessoas) e passam-se dias na expectativa e na possibilidade de mudar sempre que surge uma outra opção. É claro que chega uma fase em que isso precisa ser encerrado: a fase de confecção de lembrancinhas e afins. Chegamos nesse período, minha esposa e eu, e depois de muito diálogo chegamos a um comum acordo: nossa filha se chamará GIOVANNA WALQUIRIA. Um nome composto! Ela escolheu o primeiro e eu escolhi o segundo.

Nos últimos dias temos recebido algumas críticas e opiniões desnecessárias. Vozes que saem não sei de onde nem porquê, opinando e desaprovando nossa escolha por pura maldade. Eu não teria aberto esse post se isso não tivesse sido desconfortável para minha esposa, mas foi! Em consequência, foi à mim também. Assim sendo, gostaria de mandar um recado conciso e direto para essas pessoas:

SE VOCÊS ACHAM QUE NÃO COMBINA OU QUE É FEIO O NOME DA MINHA FILHA, PAREM DE PERDER TEMPO TENTANDO MUDAR NOSSA ESCOLHA. SEJAM MAIS PRÁTICOS, TENHAM FILHOS E BOTEM OS NOMES QUE VOCÊS QUISEREM. 

Não existe coisa mais feia que gente se metendo onde não é chamado. E para não restar dúvidas do meu asco à essas pessoas, gostaria de lembrar que minha esposa e eu somos independentes. Trabalhamos e pagamos nossas contas, por isso estamos trazendo uma criança no mundo.

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Sombra de Reis Barbudos OU um lugar ao sol?


Quase nunca tenho tempo de ler por prazer. De ler o que fogem as obrigações e alimenta a satisfação intelectual que buscamos. Há algum tempo me indicaram este livro e ele foi ficando adormecido na lista das leituras não obrigatórias. Pois bem, este final de semana me deitei e deleitei com J. Veiga e sua Sombra de Reis Barbudos.

A história me fez viajar por um tempo em que eu era criança e tinha mais facilidade de fazer reconto de alguns acontecimentos que a idade não nos permite entender como deveríamos, assim como Lu (Lucas, personagem/narrador) não entendeu sua própria história. O garotinho passa por uma aflição que nos faz também sentirmos aflitos com alguma coisa que nem temos o direito de saber ao certo o que é e como funciona. 

Imaginem uma cidade inteira tomada por uma misteriosa Companhia que impõe regras a todos os seus habitantes. Regras esdrúxulas ousadamente comparadas com o comportamento militar na época da censura no Brasil. E imaginem também, tudo isso sendo contado por uma criança que está alheia ao processo, e somente por isso consegue viver lampejos de felicidade. Nem Kafka!

Há um capítulo, o que mais me estarreceu, chamado Cruzes Horizontais, onde são erguidos muros altíssimos nas ruas da cidade tornando-a um grande labirinto em que as pessoas são proibidas de olhar para o céu. Esta certamente é a simbologia mais forte da história da morte em vida contada pela inocência ingênua e aterrorizante de uma criança que fez J. Veiga ganhar o prêmio nacional de ficção em 1973.

Por que será que tudo permanece tal e qual? Vale a pena ler.