segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

... e mais que as palavras, ainda que seja através delas que eu me defendo


Eu sei que atrás desse universo de aparências,
das diferenças todas
A esperança toda é preservada
Nas xícaras sujas de ontem
O café de cada manhã é servido
Mas existe uma palavra
que eu não suporto ouvir,
e dela não me conformo.
Eu acredito em tudo, mas...
Eu quero você agora
Eu te amo pelas tuas faltas
Pelo teu corpo marcado
Pelas tuas cicatrizes
Pelas tuas loucuras todas
Minha vida...
Eu amo as tuas mãos,
mesmo que por causa delas
eu não saiba o que fazer das minhas.
Amo teu jogo triste
As tuas roupas sujas,
é aqui em casa que eu lavo
Eu amo a tua alegria
Mesmo fora de si,
eu te amo pela tua essência.
Até pelo que você podia ter sido
se a maré das circunstâncias
não tivesse te banhado nas águas do equívoco.
Eu te amo nas horas infernais
e na vida sem tempo
quando sozinho bordo mais uma toalha de fim de semana
Eu te amo pelas crianças
e futuras rugas
Te amo pelas tuas ilusões perdidas
e pelos teus sonhos inúteis
Amo o teu sistema de vida e morte
Eu te amo pelo que se repete
e que nunca é igual
Eu te amo pelas tuas entradas,
saídas e bandeiras.
Eu te amo desde os teus pés 
até o que te escapa.
Eu te amo de alma para alma
E mais que as palavras
ainda que seja através delas que eu me defendo
quando digo que te amo mais que o silêncio 
dos momentos difíceis
quando o próprio amor vacila.

Fernando Pessoa, poeta português.






sábado, 9 de janeiro de 2016

E se fosse seu filho?

Eu estava completando 30 anos de idade, Vitor Pinto não pôde completar os 03. 
O enredo se passa com uma família indígena da tribo dos Chapecós no litoral de Santa Catarina, onde a família de Vitor havia desembarcado para vender seus artesanatos na esperança de comprarem uma geladeira. O pai, estava trabalhando em uma praia e viu no noticiário que seu filho havia sido degolado brutalmente por um branco.
A mãe amamentava o pequeno à sombra de uma árvore quando viu se aproximar o rapaz que após acariciar seu filho, cortou-lhe o pescoço. Passou a noite na chuva, desamparada. Quando o pai chegou ao local do crime e identificou o chinelo e os brinquedos da criança espalhados no chão da rodoviária, teve certeza do havia visto no noticiário. A avó de Vitor, atordoada com a brutalidade esqueceu até quantos anos tem. A tribo, que vive dessa renda centralizada em artesanatos, teme sair na cidade.
De Vitor não sobrou nenhuma foto, "nem de celular", apenas a lembrança de uma criança que não pôde viver.

SÓ QUE ISSO NÃO É NOVELA, ISSO NÃO É FICÇÃO. É A VIDA REAL!

É estarrecedor abrir o noticiário e ver histórias assim. Resistimos muito, ainda, em acreditar na força do mal e essa nossa resistência têm gerado cada vez mais peripécias com esses megalomaníacos da sociedade impune.
A versão da polícia descarta a possibilidade de um crime racista. Alega, o delegado, que o suspeito (detido) é apenas alcoólatra, usuário de drogas e pode estar envolvido em alguma seita satânica. Mas desconsidera o fato do jovem ter escolhido exatamente o indiozinho para matar depois tê-lo acariciado, e não ter pego o primeiro que encontrasse em seu caminho.
Meu Deus, que país é esse? Que justiça frouxa é essa? Parece que qualquer coisa aqui tem mais valor que uma vida! 
Quem não lembra do índio Galdino incendiado enquanto dormia numa rodoviária em Brasília? Até quando nossos índios, legítimos herdeiros desta terra serão considerados hardcore da violência urbana?
Enquanto as Leis penais forem brandas e favorecerem esses bandidos, é bom nem pensar nisso. Mas a empatia, o que nos torna diferentes dessa classe de pessoas, nos faz questionar:

E SE FOSSE SEU FILHO?