segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

... e mais que as palavras, ainda que seja através delas que eu me defendo


Eu sei que atrás desse universo de aparências,
das diferenças todas
A esperança toda é preservada
Nas xícaras sujas de ontem
O café de cada manhã é servido
Mas existe uma palavra
que eu não suporto ouvir,
e dela não me conformo.
Eu acredito em tudo, mas...
Eu quero você agora
Eu te amo pelas tuas faltas
Pelo teu corpo marcado
Pelas tuas cicatrizes
Pelas tuas loucuras todas
Minha vida...
Eu amo as tuas mãos,
mesmo que por causa delas
eu não saiba o que fazer das minhas.
Amo teu jogo triste
As tuas roupas sujas,
é aqui em casa que eu lavo
Eu amo a tua alegria
Mesmo fora de si,
eu te amo pela tua essência.
Até pelo que você podia ter sido
se a maré das circunstâncias
não tivesse te banhado nas águas do equívoco.
Eu te amo nas horas infernais
e na vida sem tempo
quando sozinho bordo mais uma toalha de fim de semana
Eu te amo pelas crianças
e futuras rugas
Te amo pelas tuas ilusões perdidas
e pelos teus sonhos inúteis
Amo o teu sistema de vida e morte
Eu te amo pelo que se repete
e que nunca é igual
Eu te amo pelas tuas entradas,
saídas e bandeiras.
Eu te amo desde os teus pés 
até o que te escapa.
Eu te amo de alma para alma
E mais que as palavras
ainda que seja através delas que eu me defendo
quando digo que te amo mais que o silêncio 
dos momentos difíceis
quando o próprio amor vacila.

Fernando Pessoa, poeta português.






Nenhum comentário:

Postar um comentário